quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Família que inspirou filme "Invocação do Mal": "Vivíamos entre duas dimensões"

Andrea e Cynthia Perron comentam
os episódios estranhos que viveram
em casa no interior dos EUA nos
anos 1970; longa é considerado o
terror do ano

Um dos elementos que transformou
"Invocação do Mal" no filme de
terror do ano foi o fato de a trama
ser inspirada em uma história real.
Nos anos 1970, o casal de
investigadores paranormais Ed e
Lorraine Warren ajudou uma
família aterrorizada por eventos
estranhos em sua casa no interior
de Rhode Island, nos Estados
Unidos.

A família - Carolyn e Roger Perron
e suas cinco filhas - passou dez
anos no local, em meio à visões,
barulhos inexplicáveis e objetos
que se moviam sozinhos. Mesmo
mais de três décadas depois,
continuam marcados pela
experiência que viveram - e que a
filha mais velha, Andrea, descreveu
em três livros.
A seguir, Andrea e Cynthia, a
segunda mais nova das irmãs
Perron, falam sobre como foi
crescer no local e as lembranças
que guardam até hoje.

As irmãs Perron da vida real e as
atrizes que as interpretam em
'Invocação do Mal'
A chegada na casa
Cynthia: Inicialmente, amávamos
a fazenda. Mal podíamos esperar
para chegar. Costumo dizer que
vivíamos em um pedacinho do
paraíso em uma parte do inferno.
Mas a propriedade era
absolutamente magnífica. Nada
podia ser melhor para cinco
meninas, ainda mais molecas como
nós, que subíamos em árvores e
muros de pedra. Mas a primeira
coisa aconteceu quando estávamos
fazendo a mudança. No momento
em que levávamos as caixas para
dentro de casa, vimos um homem.
Achamos que era alguém da família
(dos antigos donos) que estava nos
ajudando. Mas todos tinham ido
embora e ele ainda estava lá.
Andrea: Ele desapareceu em frente
a (minha irmã) Nancy. Eu nunca o
vi desaparecer, apenas o vi de
corpo todo. Achava que era um
homem normal, mortal. Nunca nos
ocorreu, nem aos meus pais, que
estávamos nos mudando para um
casa mal-assombrada.
Objetos fora de lugar
Cynthia: As coisas estavam
acontecendo a todos nós, mas não
contávamos um para o outro.
Estava com meus brinquedos em
meu quarto, descia para pegar
alguma coisa e, quando voltava,
eles não estavam no lugar certo.
Tinham sido movidos ou colocados
embaixo da cama. Aí eu ia brigar
com minhas irmãs e elas não
sabiam do que eu estava falando.
Foi assim que começou. Quando
você percebe que ninguém mais
está na casa, só você, e os
brinquedos ainda estão mudando
de lugar…não pode ser uma das
suas irmãs.

Andrea: Começamos a culpar umas
às outras. Éramos cinco meninas
que dividiam tudo, se amavam
loucamente. Mas quando mudamos
para a fazenda, de repente só havia
suspeita e briga. Não éramos
crianças ricas, então valorizávamos
nossos brinquedos. E quando as
coisas começaram a desaparecer,
as acusações surgiram. Um dia
minha mãe colocou fim a tudo
isso. Ela disse: “Seu pai e eu nos
mudamos para as montanhas e
compramos esta fazenda para que
vocês tivessem um ótimo lugar
para viver. E vocês têm mais do
que a maioria das crianças deste
planeta. Isso acaba agora”. Então
percebemos o que estava
acontecendo e tivemos uma espécie
de transição espiritual. E foi aí que
Cindy começou a dividir seus
brinquedos com as crianças que
apareciam no quarto dela para
brincar.
A conversa com os pais
Andrea: Sim. Cindy ia até a minha
cama e dizia: “Annie, estou ouvindo
vozes e todos dizem a mesma
coisa”. E eu perguntava o que eles
diziam, e ela respondia: “Há sete
soldados mortos na parede”. Oito
gerações de uma família viveram e
morreram naquela casa antes da
nossa chegada. Depois de cinco ou
seis meses, abordei minha mãe e
disse que era hora de ela saber o
que as minhas imrãs estavam
dizendo. Um ou dois dias depois,
quando meu pai chegou em casa,
ela disse: “Precisamos conversar.
Você precisa saber o que está
acontecendo com a sua família”.
Foi a primeira conversa que eles
tiveram sobre as manifestações
espirituais na casa.
Viver na casa por dez anos
Andrea: Acho que estávamos
destinados a ficar lá. Era quase
como se a casa nos fizesse ficar lá.
E é preciso lembrar que nos
mudamos para a fazenda em
janeiro de 1971, quando nossa
economia estava muito ruim. O
valor da propriedade só diminuía e
meus pais tinham colocado tudo o
que tinham na casa. Não podíamos
apenas ir embora. E nós amávamos
a fazenda. Alguns espíritos eram
muito bons conosco, nos
protegiam.
Os espíritos que viviam na casa
Andrea: Dez ou doze espíritos
eram frequentemente vistos por
nós. Havia algo de natureza
demoníaca naquela casa. E não
sabemos se fomos nós quem os
deixaram entrar. Mas acho que
não. Acho que estavam lá há muito
tempo. A tristeza que havia naquela
casa…Podíamos voltar felizes da
escola, mas cinco minutos em casa
bastavam para acabar com a
gente.
Tínhamos alguns amigos próximos
para quem contávamos as coisas.
Mas mesmo os mais próximos não
acreditavam. É preciso lembrar que
éramos crianças absolutamente
normais que viviam uma existência
paranormal. Vivíamos entre duas
dimensões. Então era possível
passarmos ótimos momentos
juntas. Podíamos ir para um
parque de diversões com nossos
pais e dar risada. E então
voltávamos para casa, meu pai
abria a porta e gritava, porque
estava entrando em um lugar cheio
de espíritos. E tudo mudava. A
felicidade se dissipava
instantaneamente.

Presa em um baú de madeira Cynthia: Quando nos mudamos, fazia muito frio, então começamos a brincar mais depois de seis meses. Uma vez, tive a ideia de me esconder em um baú de madeira que não tinha trinco ou trava, apenas uma tampa de levantar. Me escondi ali e ninguém vinha me achar. Quando tentei levantar a tampa, ela não abria. Comecei a entrar em pânico. Chutava, empurrava, gritava e ninguém me ouvia. Depois de 20 minutos, desisti. Então minha irmã Nancy veio e abriu a tampa. Eu estavam encharcada de suor, então ela percebeu que eu estava lá há muito tempo. Eu não conseguia respirar, foi muito ruim. A chegada de Ed e Lorraine Warren Andrea: Nossa amiga Barbara foi vê-los em Putnam, porque eles faziam trabalhos na região. Eles foram informados sobre nós. Ficamos muito animadas e aliviadas porque podíamos falar sobre o que estava acontecendo com quem ouvia e acreditava. As filmagens de "Invocação do Mal" Andrea: Sem a nossa mãe, fomos ao set e nos perguntaram se poderíamos dar uma entrevista. Cerca de uma hora e meia depois, do nada, veio um vento forte. Voaram as câmeras, telas, microfones, tudo. Eu olhei para o lado e nenhuma árvore estava se mexendo. Não estava acontecendo nada em nenhum outro lugar daquele set. Olhei para minha irmã Cris e disse: "A maldição de Bathsheba" (nome de um dos espíritos do filme). Ela concordou. No mesmo momento, minha mãe caiu e quebrou o quadril. Só recebemos a mensagem várias horas depois, é claro, porque não podíamos usar celular no set. Chegamos ao hospital logo depois da operação. Minha mãe estava muito sedada, não estava lúcida. As cinco filhas, as enfermeiras e o médico estavam no quarto. Ela sentou, me olhou e disse: "A maldição de Bathsheba". E então deitou de novo e dormiu até o dia seguinte. A relação com a casa Andrea: A casa nunca nos deixou, ainda que nós tenhamos deixado a casa. Nunca nos deixou e nunca nos deixará.

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